Três
dias depois de divulgado o segundo maior prêmio desde que a Mega-Sena
da Virada começou, em 2009, apostadores começaram a retirar a bolada,
enquanto outros, menos afortunados, lamentaram por pouco não terem
entrado no seleto grupo dos novos milionários. O rateio foi de R$
224.677.860. Quatro apostas acertaram as seis dezenas da Mega-Sena da
Virada 2013, sendo duas no Paraná, uma em Alagoas e uma na Bahia. Em
Teofilândia (BA), o primeiro dia útil de 2014 foi marcado por um misto
de alegria, arrependimento, sonho, medo e clamor por mais segurança.
Tudo por conta do bilhete premiado, que foi pago a um grupo de 22
pessoas que trabalha no Hospital Municipal Waldemar Ferreira de Araújo e
investiu R$ 100 no bolão. Agora, cada um deve receber pouco mais de R$ 2
milhões. Os vencedores são duas cozinheiras, quatro funcionárias da
limpeza, cinco motoristas, cinco técnicas de enfermagem, três
vigilantes, uma enfermeira, uma recepcionista e um diretor. Eles
retiraram a quantia no final da tarde da última quinta-feira (2). Um dos
amigos dos ganhadores disse que seu nome era um dos primeiros da lista
do bolão, mas acabou excluído por não ter pago sua parte no dia da
aposta. — O organizador resolveu adiantar a aposta e como eu viajei e
acabei não pagando, meu nome foi retirado da lista. Não era pra ser —
disse o funcionário, que não quis se identificar. Melhor sorte teve o
diretor Valdemir de Assis, 43 anos, casado, quatro filhos: — Resolvi
participar pela primeira vez e dei sorte. Mas não mudará muita coisa em
minha vida, afinal minha família é muito grande e pobre, assim como a de
minha esposa. Quando recebeu a notícia dos colegas, Valdemir disse ter
ficado “sereno”. Na virada do ano, “como sempre faço, abri um espumante e
brindei com minha esposa”. Ele não quis entrar em detalhes sobre o
salário que recebe, mas disse que o prêmio vai melhorar um pouco a
qualidade de vida da família: — Sairei do aluguel mensal de R$ 500, mas
continuarei trabalhando.
Vencedora já deixou a cidade:
Uma
das vencedoras, Maria Lúcia deixou a cidade na noite de quarta-feira.
Há mais de 20 anos, ela trabalhava no hospital. No quintal da casa de
estrutura muito precária, apenas uma cadela, um cachorro e algumas
galinhas ciscando. Vizinha de Maria Lúcia, Marivalda Andrada disse que a
viu chorando na tarde do dia 1º: — Achei que foi de emoção. E, por
volta das 22h, um carro parou em sua porta, pegaram algumas coisas e ela
partiu. Acho que perdi uma amiga, mas estou muito feliz pela sua
conquista. Na cidade, o prêmio de Maria Lúcia foi visto como o mais
merecido. — Ela é muito pobre e sofredora. Mãe de 10 filhos, sendo dois
deficientes físicos. Tinha dia que, por falta de dinheiro, ela andava
até o trabalho. São mais de 9km. Deus foi muito justo com ela. Estou
muito feliz — disse Ademilson Ramos. Na casa de uma das filhas de Maria
Lúcia, Junior, genro da vencedora, pediu que a equipe de reportagem
fosse embora: — Não se brinca com dinheiro, aqui é uma cidade sem
nenhuma segurança, e vocês da imprensa vão acabar cavando a nossa
sepultura. A preocupação com a segurança não é à toa. Segundo o delegado
Getulio Queiroz, na cidade existe “dificuldade de pessoal”. — Trabalho
com apenas dois agentes e um escrivão — contou Queiroz, lembrando que a
Polícia Militar trabalha com oito homens e em regime de revezamento: —
Só mesmo com a ajuda de Deus. Motorista do hospital, Antônio Matos disse
conhecer todos os vencedores: — Nenhum veio trabalhar. Eles não estão
preocupados com demissão.
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