A restauração de nossos afetos e das nossas emoções só se tornarão possível quando nos abrirmos ao amor divino e ao amor humano
Muitos de nós precisamos conquistar cura e
equilíbrio em nossos afetos, visto que somos seres profundamente
relacionais e, justamente por isso, colecionamos feridas que nasceram
dos relacionamentos que experienciamos na vida. Nascemos e vivemos em um
contexto profundamente relacional, pois, desde a mais tenra idade,
encontramo-nos ligados a outras pessoas na família, na escola e,
posteriormente, no trabalho.
Ninguém nasce para viver sozinho. Todos precisam de amigos, de
relações calorosas e afetuosas, de uma família etc. É natural do ser
humano o desejo de estar emocionalmente conectado e, quando essa
necessidade não é satisfeita ou quando é vivida de maneira
desequilibrada, acontece um intenso sofrimento psicológico/emocional que
acaba nos marcando com profundas feridas.
Aqui, mais uma vez ressalto, com clareza e
objetividade, que a causa de nossas feridas afetivo/emocionais estará
sempre ligada à experiência do amor, a sua ausência ou a sua incorreta
expressão e vivência. Afirmo, mais uma vez, que apenas o amor poderá
curar as feridas por ele ocasionadas. Não, obviamente, a experiência de
“qualquer amor”, mas de um amor que seja verdadeiro e que realmente nos
devolva à vida.
Para um autêntico processo de cura, faz-se
necessário, inicialmente, abrir-se inteiramente à experiência do amor de
Deus, que é infinito e incondicional, acolhe-nos como somos e nos
abarca em nossas afetivas necessidades. Por consequência, abrir-se à
experiência do amor humano, visto que todos temos a necessidade de amar e
sermos amados para alcançarmos a cura e o equilíbrio interior.
A derradeira restauração em nossos afetos só se tornará possível, como bem expressou a Encíclica Deus Caritas Est,
com a união de dois amores em nosso coração: o humano e o divino, o
Eros e o Ágape. Serão essas, pois, as duas realidades que transformarão
nossas emoções: o amar e ser amado, na dimensão humana, e o permitir-se
ser amado por Deus, também amando-O. Será este o amor que nos curará e
nos devolverá à vida, visto que ele traz em si a perene possibilidade de
nos ressuscitar, transformando nossos emocionais invernos em belíssimas
primaveras.
Lamentavelmente, muitos são os corações que
colecionam profundas feridas emocionais em virtude de, na vida, só terem
experienciado “relacionamentos de troca”. Em tais relacionamentos, o
afeto é ausente e imperam unicamente a cobrança e os pessoais
interesses. Em virtude dessa realidade, tais corações não se sentiram
amados e “aprovados” por aquilo que verdadeiramente são, sendo sempre
acostumados a “pagar” para receberem o afeto e a alheia aprovação.
Essas pessoas só eram amadas e valorizadas
quando davam algo em troca, correspondendo aos interesses egoístas de
alguém. Este imperfeito modelo de relacionalidade, acrescenta, ainda que
de forma velada pelo inconsciente, agudas marcas e feridas no coração.
Essa prática é, infelizmente, muito comum e, ao mesmo tempo,
extremamente prejudicial, visto que gera uma concepção utilitarista do
amor por meio do qual o afeto será falsamente ofertado no “mercado” dos
interesses pessoais, na maioria das vezes, acentuadamente egoístas.
Assim, o coração humano se sente constantemente usado e abusado e, por
consequência, vazio de amor e afeto em um verdadeiro raquitismo
emocional, o qual fará se ausentar de sua compreensão a crença no imenso
valor presente em sua vida e em sua história. Tal concepção e
comportamento é, sem dúvida alguma, a gênese de muitas feridas e
deformidades emocionais contemporâneas.
Para dar concretos passos nesse processo de
cura, precisaremos nos empenhar para construir relacionamentos de
comunhão; não de troca. Na comunhão, as iniciativas de amor são livres e
realizam o ofício de vivificar a essência do bem no coração. Esses
relacionamentos não exigem nada (nenhuma paga) em troca do amor. É claro
que eles não são mágicos nem caem do céu, mas precisam, obviamente, ser
construídos com paciência e, sobretudo, com constantes iniciativas de
amor.
Trecho retirado do Livro “Curar-se para ser feliz”
Trecho retirado do Livro “Curar-se para ser feliz”
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