
Neste Dia Internacional da Mulher, comemorado
hoje, dez cidades baianas têm uma característica em comum: elas ostentam
o maior percentual de mulheres em relação a homens. Dos 417 municípios
baianos, 152 têm o predomínio feminino em suas populações. Mas em
Salvador e em outros nove municípios, esse percentual salta aos olhos.
Com
53,3% de presença feminina, Salvador é, em números absolutos e também
proporcionalmente em relação à população masculina, a cidade baiana com
mais mulheres. Os outros nove municípios com os maiores percentuais são
Santo Antônio de Jesus (52,78% de mulheres), Cruz das Almas (52,77%),
Alagoinhas (52,65%), Itabuna (52,64%), Feira de Santana (52,57%),
Muritiba (52,5%), Santo Estêvão (52,16%), Rio de Contas (52,08%) e
Governador Mangabeira (52,08%).
Segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, mais de
1,4 milhão de mulheres circulavam por Salvador diariamente. Em média,
havia 100 mulheres para cada 87 homens vivendo na capital baiana. Em
2014, essa proporção chegou a 53,4%, quando a população feminina
alcançou 2,2 milhões de pessoas – contra 1,9 milhão de homens.
O
curioso é que, pelo menos em Salvador, nascem mais homens do que
mulheres. “Se a gente fizer um levantamento por faixa etária, percebe
que nascem mais homens. Mas, quando chega na faixa dos 15 anos, existe
essa inversão, principalmente por conta da violência, da maior exposição
dos homens à violência”, explicou o supervisor de disseminação de
informações do IBGE na Bahia, André Urpia.
Segundo
as estatísticas de Registro Civil do IBGE, 1.687 homens – 1.420 deles
solteiros – tiveram mortes violentas em Salvador ao longo de 2014.
Apenas 206 mulheres tiveram mortes assim no mesmo ano – 150 delas
casadas. Em toda a Bahia, foram 8.725 homens vítimas de mortes
violentas, contra 1.148 mulheres.
Ainda em
Salvador, as mulheres estão à frente de classes de ensino básico e
médio, cuidando de pacientes em consultórios e enfermarias, vendendo
artigos no comércio, prestando serviços. Também têm processos para serem
julgados e crimes a serem solucionados. A maioria se declara parda, tem
entre 25 e 29 anos de idade, mora na parte urbana da cidade e frequenta
centros espíritas.
Religião
Embora
a maior parte dos moradores de Salvador se declare católica, entre as
mulheres, a doutrina predominante é o espiritismo. A religião também
conquistou a maior parte das mulheres de Cruz das Almas, Alagoinhas,
Itabuna e Rio de Contas, que estão entre as dez cidades com o maior
percentual de mulheres.
Para a diretora da
sede histórica da Federação Espírita do Estado da Bahia (Feeb), Suzy
Moreau, o número de adeptos vem aumentando pelo menos nos últimos dez
anos. Ela confirma os dados do IBGE e diz que, sim, os encontros e
reuniões doutrinárias estão cada vez mais preenchidos por mulheres. Na
própria Feeb, há dezenas de frequentadoras.
“Nós
temos uma pesquisa que foi feita num congresso nosso, na década de
1980, dizendo que as pessoas buscavam o espiritismo pela questão da dor,
porque estavam sofrendo e não tinham uma resposta. Na década de 1990,
foi feito outro levantamento e aí foi diferente. Havia um crescimento e
as pessoas estavam buscando o espiritismo pela sede do conhecimento do
que elas precisavam saber e que outras doutrinas não explicam”, disse
Suzy.
Mercado de trabalho
Para
a professora Cecilia McCallum, doutora em Antropologia Social pela
University of London e professora do curso de Antropologia da
Universidade Federal da Bahia (Ufba), a participação feminina vem
crescendo em áreas como o Direito e o ensino superior. “Em algumas
ocupações, as mulheres têm bastante proeminência. É impressionante a
quantidade de mulheres que se tornam juízas, desembargadoras, por
exemplo”, disse.
No Tribunal de Justiça da
Bahia (TJ-BA), há 27 desembargadoras e quatro dos cinco cargos da mesa
diretora do Tribunal são ocupados por mulheres – inclusive o de
presidente, pela desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago. Na
Polícia Civil, as mulheres também estão em maior número que os homens,
pelo menos em Salvador: das 16 delegacias territoriais, 11 são
comandadas por mulheres.
Elas também dominam
as salas de aula, e no estado inteiro. Segundo a Secretaria Estadual da
Educação (SEC), são 29.153 professoras, o que representa mais de 70% do
total. Já o Conselho Regional de Enfermagem da Bahia (Coren-BA) computa
que 90% dos inscritos são mulheres: 97.796 entre auxiliares de
enfermagem, técnicas de enfermagem e enfermeiras, de um total de 108.552
registrados.
Para o estatístico Gilberto
Marquezini, a tendência é que, nos próximos 10 ou 15 anos, a
predominância feminina nas cidades seja ainda mais significativa. “O
Brasil todo tem mais mulheres do que homens, mas a diferença é pequena.
Se isso fosse política, eu diria que estamos na margem de segurança. Mas
hoje há muito mais mulheres nas universidades e, daqui a 10 ou 15 anos,
acredito que as mulheres atingirão os cargos principais, até porque
elas têm uma qualidade maior nos estudos”.
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