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Dizem que o jovem não gosta de política. Isto é verdade?
O jovem não é um sujeito isolado do restante da sociedade.
E, de uma forma geral, toda a sociedade tem partilhado certa descrença
na ação política. Num contexto histórico em que muitas pessoas estão
desanimadas com a política, é evidente que muitos jovens também vão
partilhar desse sentimento. No entanto o que é política? Nas últimas
pesquisas realizadas com jovens sobre este tema é interessante notar
que, ao falar de política, muitos afirmam que não gostam. Mas quando se
trata do tema da participação social, a maioria acha que é muito
importante. E participar não é um ato político? A palavra política está
muito associada ao governo, ao partido... Se ampliarmos esta noção de
política para a ideia de participação pública e coletiva, pode crer que
muitos jovens não só gostam de política como têm um forte engajamento,
maior inclusive que qualquer outro segmento social.
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O que leva o jovem a desacreditar na política?
Primeiro, é entendermos o que de fato o jovem está chamando
de política. Algumas palavras são muito significativas, mas estão
desgastadas quanto ao seu uso. Evidentemente isso não é por acaso. No
campo da política institucional, a forma com que muitos dos políticos
profissionais têm tratado as questões públicas faz com que
desacreditemos que qualquer mudança seja possível. Da mesma forma, a
mídia também contribui para que tenhamos uma ideia ruim da política.
Valoriza-se muito, nos noticiários, atitudes de corrupção, nepotismo... e
muito pouco (ou quase nada) as boas ações políticas. Há uma série de
leis e políticas públicas importantes que foram pensadas por gente muito
comprometida. Mas tenta-se colocar todos no mesmo saco. Se se conhece
apenas maus exemplos, o descrédito dos jovens a esta política
institucional será natural.
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Que importância e que vantagens tem o jovem ao participar da política?
É de suma importância a participação dos jovens na vida
pública de sua cidade, do seu país. Afinal, como membro de uma
sociedade, ele tem responsabilidade sobre os rumos que ela vai tomar.
Porém isso não é responsabilidade apenas dos jovens, mas de todos. Por
vezes, pretende-se lançar nos ombros da juventude toda a
responsabilidade pela mudança social. E há também uma crença de que, por
se tratar de jovem, a ação política que dele vem será sempre boa. Há
jovens políticos no Congresso que defendem as mesmas posições
conservadoras de seus pais, de seus avós... Ao tratar do tema da
participação, não podemos ignorar o seu conteúdo ideológico. Ou seja,
não basta que o jovem participe apenas, mas como se dará esta
participação e qual formação tem este jovem são questões fundamentais. O
jovem não é naturalmente revolucionário. Dependendo do processo
formativo que teve, pode ou não ter uma atitude revolucionária.
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Como ensaiar e "detonar" o debate político nas escolas e grupos?
O debate político está presente o tempo todo nos grupos de
jovens, dentro ou fora da escola. Nas conversas de corredores das
escolas, nos espaços das igrejas, nos bares, a todo instante os jovens
estão partilhando suas vidas, comentando sobre problemas que atravessam
seus cotidianos. Tais partilhas são pouco valorizadas em sala de aula e
em outros grupos. Nossa vida é composta por questões privadas e
públicas. As questões públicas que atravessam nossas vidas como o
desemprego, a qualidade na educação, o acesso a bens culturais, a
circulação pela cidade estão latentes na vida da maioria da juventude. É
necessário colocar a vida, os gostos, as práticas dos jovens na cena
pública. É preciso fazer o jovem sacar que uma questão pesada pra ele e
que diz respeito à maioria dos jovens é algo público. E para isso não
basta uma ação privada, individual, mas uma ação pública, ou seja, uma
ação política. Enquanto não percebermos que falar de política é tratar
da nossa vida, o debate político sempre será entendido como algo
distante.
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Como criar o gosto, como se encantar pela participação política?
O jovem precisa experimentar o gosto da participação. Os
jovens não participarão de ações que não lhe são prazerosas e criativas.
Ao iniciar a atuação em um grupo, muitas vezes, o jovem não o faz por
uma questão ideológica, mas porque ele acha legal mexer em uma
filmadora, aparelho de som, encontrar as pessoas, produzir algo... Creio
que a sociabilidade e a produção são os grandes mobilizadores da
atuação dos jovens. Os grupos juvenis que produzem algo, como os punks
com seu do it yourself, sentem-se capazes de fazer coisas. Esta é a
magia: você pode fazer e mudar coisas! Quando o jovem experimenta isto,
ele saca a importância de participar. E a sociabilidade faz com que o
jovem não se sinta só. A ação individual voluntarista não cria redes e
dificilmente este jovem se mantém por muito tempo no desenvolvimento de
um trabalho. Estar e agir em grupo encanta os jovens para atuarem na
realidade que os envolve e cria um compromisso mais permanente.
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Onde, quando e como o jovem pode começar a participar?
Por mais que ainda possuam grande importância para as
transformações sociais, os partidos políticos e sindicatos estão cada
vez mais distantes do universo juvenil. Muitos partidos, a partir dos
anos de 1990, passaram a organizar setoriais juvenis com o intuito de
tratar as questões sobre este segmento de forma mais séria. No entanto o
trabalho de fazer jovens despertarem para a militância política
dificilmente se inicia dentro dos partidos. A maioria dos jovens que aí
milita despertou para a participação em outro movimento ou grupo. A
linguagem, a disputa interna e a burocratização das relações partidárias
não têm sido muito atraentes para esta geração juvenil.
Porém outras formas de atuação têm cada vez mais se apresentado como
novos modos de participação, atraindo os jovens para o debate público de
questões que dizem respeito a eles e à comunidade na qual estão
inseridos. São grupos culturais de produção audiovisual alternativa,
projetos e ações pontuais diversas organizadas por jovens.
Um novo jeito de participar vem se configurando e se somando a formas
mais convencionais de atuação, como movimento estudantil, sindicatos ou
partidos. E onde estão esses novos grupos? Estão potencialmente em todos
os espaços onde há jovens interessados em desenvolver algum tipo de
ação que os interpele. A novidade é cada grupo que vai expressá-la.
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O voto aos 16 anos é uma conquista? Como aproveitá-la?
O voto é uma das formas de participar. Com certeza, a
garantia do direito ao voto para adolescentes de 16 e 17 anos é uma
conquista importante a se cultivar. O fato de ser facultativo também é
interessante, pois participar de forma obrigatória não atrai nem um
pouco. Aliás, penso que o voto para todas as pessoas deveria ser
facultativo... Para aproveitar melhor esta conquista, deve se fazer um
movimento de valorização da ação política. O adolescente jovem que não
possui qualquer tipo de atuação, e que partilha da visão negativa
presente na sociedade sobre a prática política, dificilmente vai
perceber a importância que seu voto tem. Experiências como votação para a
chapa do grêmio estudantil, eleger propostas e delegados para uma
conferência municipal de juventude, escolher pelo voto o coordenador do
grupo ao qual o jovem participa são hábitos democráticos que contribuem
para que os jovens percebam a importância que seu voto tem para um país.
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De onde virão, como serão os novos políticos? Há esperanças?
Enquanto houver seres humanos, sempre haverá história! E
com ela, esperanças de que é possível ser diferente... Em alguns
contextos históricos é momento de esperar, de semear, de preparar a
terra. Em outros, é hora de fazer o pão com o que você colheu! De onde
virão os novos e bons políticos? Com certeza não será do marasmo dos
descrentes de hoje. Aqueles que contribuirão para mudar os rumos da
história virão da simplicidade do pequeno e paciente trabalho de
formação de base. Virão das novas experiências culturais de coletivos
juvenis que têm pintado pelas periferias das grandes cidades; virão de
jovens que aprenderam que para a utopia ser conquistada lá fora, ela
precisa estar primeiro dentro de nós...
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