Tite é o novo técnico da seleção brasileira.
Adenor Leonardo Bachi, de 55 anos, gaúcho de Caxias do Sul, recebeu a
missão de substituir Dunga, demitido após a eliminação na fase de grupos
da Copa América Centenário. A confirmação foi de Roberto de Andrade,
presidente do Corinthians, durante entrevista coletiva nesta
quarta-feira, em São Paulo.
Poucas horas
depois, em um comunicado oficial, a CBF afirmou que os detalhes serão
resolvidos na quinta para a contratação do treinador. -
Tite a partir deste momento não trabalha mais conosco. Ele aceitou o
convite da CBF. Hoje à tarde foi o último treino dele. No jogo de amanhã
ele não dirige mais o time. Junto com ele saem Cleber Xavier, Matheus e
Edu Gaspar - declarou o presidente.
Tite
assumirá uma seleção brasileira em crise profunda. Além de ser
eliminado de forma vexatória do torneio nos Estados Unidos, está fora da
zona de classificação para a Copa do Mundo de 2018 e tem uma Olimpíada
em casa daqui a menos de dois meses - o responsável pela busca da
inédita medalha de ouro será Rogério Micale, confirmado nesta quarta
pela CBF como treinador do time olímpico.
O
agora ex-técnico do Corinthians aceitou o convite após ter sido
assediado algumas vezes no último ano, enquanto Dunga ainda estava
empregado. Era um dos motivos pelos quais Tite não havia aceitado antes.
No último contato, revelado pelo GloboEsporte.com em abril deste ano, o
técnico disse que não gostaria de deixar o Corinthians durante a
disputa da Copa Libertadores.
Tite sonhava
assumir a seleção brasileira em 2014, após a Copa do Mundo e nunca
escondeu a decepção por ter sido preterido por Dunga - algo que também
motivou suas recusas no último ano. O mesmo Marco Polo Del Nero,
presidente da CBF, que dois anos atrás ignorou o apelo popular por Tite
para escolher o capitão do tetra, hoje fez o movimento contrário:
dispensou um, recorreu ao outro.
A situação da
CBF mudou bastante nos últimos dois anos. O vice-presidente (e
ex-presidente) José Maria Marin foi preso na Suíça, o presidente Marco
Polo Del Nero foi indiciado pelo FBI e a seleção brasileira sob o
comando de Dunga não teve os resultados esperados em campo. A solução
encontrada para a crise de imagem da CBF foi contratar o técnico campeão
de tudo em suas duas últimas passagens pelo Corinthians.
Tite, o jogador
Volante
de origem, Tite iniciou a carreira de jogador no Caxias, do Rio Grande
do Sul. Pelo tradicional clube de Caxias do Sul, foram seis anos e
nenhum título. Em 1984, se mudou para o Esportivo, de Bento Gonçalves.
Passou apenas um ano defendendo a equipe, e logo foi defender as cores
da Portuguesa.
Chegou em 1985 e saiu em 1986,
quando acertou com o Guarani. Pelo time de Campinas viveu seu melhor
momento como jogador, alcançando o vice-campeonato do Campeonato
Brasileiro de 1986, e do módulo amarelo da Copa União, em 1987. Porém,
dois anos depois as seguidas lesões no joelho fizeram Tite abandonar a
carreira de jogador.
Técnico
Formado
em educação física pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas,
Tite começou a carreira de treinador em 1990, quando assumiu o
Guarany-RS. Tinha início ali sua peregrinação por clubes do interior do
Rio Grande do Sul. Ele comandou também Caxias, Veranópolis, Ypiranga e
Juventude. E em 2001 teve a primeira chance em um grande time, quando
assumiu o Grêmio. Deixou o clube apenas em 2003, já reconhecido no
cenário nacional. Depois do Imortal, assumiu o São Caetano, clube pelo
qual trabalhou entre julho de 2003 e fevereiro de 2004.
Quando
deixou o Azulão, continuou em São Paulo. E acertou com aquele que seria
o grande clube da sua carreira: o Corinthians. Na primeira passagem,
chegou em maio de 2004 e saiu em fevereiro de 2005. Então, assumiu o
Atlético-MG, ficando pouco tempo. Em 2006, mais um desafio na capital
paulista: o Palmeiras. Tite trabalhou de maio até setembro na Academia
de Futebol. Seu próximo desafio seria o Al-Ain, dos Emirados Árabes. Ele
ficou alguns meses antes de retornar ao Brasil. Desta vez, o destino
seria o Internacional, pelo qual trabalhou entre junho de 2008 até
outubro de 2009. Dali, partiu para outra experiência fora do Brasil:
Al-Wahda, também nos Emirados.
A sequência da
carreira de Tite se resumiu ao Corinthians, em três passagens. Entre
elas, um período sabático. Tite voltou em outubro de 2010 e saiu apenas
em dezembro de 2013. Passou 2014 se preparando para novos desafios, que
imaginava ser o futebol europeu ou seu grande sonho: a seleção
brasileira. Como não foi chamado para o time nacional, voltou ao Parque
São Jorge em janeiro de 2015. Para ser ter uma ideia da relação
Tite-Corinthians, foram dois títulos do Brasileirão, uma Copa
Libertadores, um Mundial de Clubes da Fifa, uma Recopa Sul-Americana e
um Campeonato Paulista.
Títulos
A
primeira conquista de Tite como treinador foi em 1993. Levou o
Veranópolis ao título do Campeonato Gaúcho da Segunda Divisão. No Rio
Grande do Sul, conquistou mais títulos. Levou o Estadual pelo Caxias em
2000. No Grêmio, foram dois (o Gauchão de 2001 e a Copa do Brasil no
mesmo ano). E no Colorado, ganhou a Copa Sul-Americana (2008), o
Estadual (2009) e a Copa Suruga (2009).
O
grande trabalho de Tite como treinador foi, sem dúvida, no Corinthians.
Em três passagens, conquistou os títulos mais importantes da história do
clube paulista. Venceu um Campeonato Paulista (2013), dois Campeonatos
Brasileiro (2011 e 2015), uma Copa Libertadores (2012) e um Mundial de
Clubes da Fifa (2012), além da Recopa Sul-Americana (2013).
Derrotas
Talvez
a derrota mais marcante da carreira de Tite tenha acontecido também
pelo time que mais o projetou: o Corinthians. Na pré-Libertadores de
2011, o Timão que contava com Roberto Carlos, Ronaldo, Jucilei e
Dentinho foi eliminada pelo Tolima, da Colômbia. O então presidente do
clube, Andrés Sanchez, bancou a permanência do treinador. Após o
fracasso, o Fenômeno acabou se aposentando dos gramados, e o time perdeu
diversos jogadores.
Tite também foi
derrotado em algumas finais. Pelo Inter, perdeu a Copa do Brasil de 2009
justamente para o Corinthians. E também ficou com o vice da Recopa
Sul-Americana do mesmo ano. Em 2011, no comando do Timão, perdeu a
decisão do Campeonato Paulista para o Santos.
"Fala Muito"
Dois
técnicos gaúchos, duas referências no futebol brasileiro. Tite e Luiz
Felipe Scolari já tiveram uma relação próxima, com o comandante do penta
sendo peça importante na formação do novo técnico da seleção
brasileira. Porém, se tornaram rivais em campo e tiveram episódios
famosos, discussões como a que aconteceu em 2011. No clássico entre
Corinthians e Palmeiras, Tite se virou para o então comandante alviverde
e soltou, fazendo gestos com a mão: "Fala muito!".
Manifesto
Há
seis meses, na esteira do indiciamento de Marco Polo Del Nero pelo FBI,
Tite assinou um manifesto produzido pelo movimento Bom Senso FC no qual
se pedia a "renúncia definitiva" do presidente da CBF. O texto, que
fala em "corrupção" e "profundo problema estrutural" tem a assinatura de
Pelé e outras personalidades do futebol.
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