"Foram dias de terror, mas agora que tudo já
passou e estou bem, quero correr, quero brincar, quero viver", disse o
garoto João Guilherme Matos, de 10 anos, ao deixar o Hospital Teresa de
Lisieux, em Salvador, após seis dias internado depois de sofrer a picada
de uma cobra venenosa.
O menino, que mora em
Fortaleza (CE), teve alta médica no fim da manhã desta quarta-feira
(29), mas só deixou a unidade de saúde à tarde, acompanhado do pai e da
mãe. Ele foi atacado na coxa direita por uma cascavel, enquanto fazia
trilha com a mãe na cidade baiana de Ibicoara, na região da Chapada
Diamantina.
Enquanto aguardava os últimos
minutos numa sala separada do hospital, antes de ser liberado, João não
escondia a ansiedade de poder se despedir logos dos médicos. "Quero
comer acarajé, sushi, pizza, hamburguer. Passar todos esses dias aqui
[no hospital] não foi muito bom não", disse o garoto.
Durante
a saída, já com a mochila nas costas, fez selfies e recebeu abraços
carinhosos de funcionários e pacientes do hospital que acompanharam a
sua trajetória desde que chegou à unidade médica em uma UTI aérea, em
estado grave, no útlimo dia 23.
O garoto
afirmou que enquanto fazia a trilha com a mãe, chegou a perceber algo
estranho no mato, mas não imaginou que fosse uma cobra. "Eu estava
andando um pouco na frente do guia e percebi uma coisa estranha
camuflada na mata, mas ignorei. Passei bem perto dela e ela me picou. Na
hora, não senti nenhuma dor, mas quando percebi que era uma cobra, saí
correndo e gritando. Ela era muito grande", relembra.
Perguntado
se voltaria a fazer trilha depois do susto, o menino foi categórico:
"Quero voltar, sim, não tenho medo, mas da próxima vez vou estar mais
preparado e tomar mais cuidado, né?", disse, enquanto recebia um beijo
da mãe, a professora Erilene Matos.
A mãe, que
tem outro filho de 17 anos que não viajou para a Bahia, conta que
chegou a pensar em vender a casa, em Fortaleza, para pagar por uma vaga
em uma UTI de um hospital particular para o filho, mas que depois
desistiu da ideia após saber que o plano de saúde da família cobriria os
gastos.
"O
susto foi realmente muito grande, mas isso não pode fazer a gente
deixar de fazer o que gosta. Somo acostumados a andar no mato, já
fazemos isso e nunca passou na nossa cabeça que isso iria acontecer.
Estamos planejando juntar dinheiro para voltar à Chapada novamente.
Agora, só queria agradecer aos amigos, familiares e até pessoas que nem
conheço que torceram para a gente, sobretudo nas redes socias", disse a
mãe.
Erilene afirmou que ela e o filho vão
voltar para Fortaleza no dia 13 de julho. A viagem de retorno estava
prevista para a manhã de quinta-feira (30), mas foi adiada porque o
menino estava sem previsão de alta. "Vamos ficar na casa de amigos, em
três casas diferentes [nesse período]. Duas famílias que vão nos receber
nós conhecemos lá na Chapada [Diamantina]. Vamos aproveitar esse tempo
para conhecer um pouco mais a cidade e depois voltamos", disse.
O
pai de João Guilherme, Everton Chaves de Paiva, que também mora na
capital cearense e é sepado da mãe do garoto, veio para Salvador no
sábado (25) após saber que o filho tinha sido picado pela cobra. "Quando
eu fiquei sabendo, fiquei muito assustado e nervoso, porque sei que a
cobra é bastante venenosa. Mas tive fé que quando eu chegasse aqui teria
surpresas boas e uma delas foi esse milagre de ele ter sobrevivido.
Quando cheguei aqui ele não tava andando direito, os rins não estavam
funcionando bem, mas agora está aí brincando de novo".
O
diretor clínico do Hospital Teresa de Lisieux, doutor Manoel Peso,
afirmou que a recuperaçao de João Guilherme foi rápida. "Quando chegou
aqui, o sangue dele estava incoagulável. O veneno da cobra circulou por
todo o corpo dele e alterou os fatores da coagulação e ele chegou com a
perda da visão e sem movimentos, mas com hidratação e as medidas que
foram tomadas ele foi melhorando. Criança recupera rápido. Para nós, é
uma alegria muito grande", destacou.
Ainda de
acordo com o médico, o menino não vai ter nenhuma sequela. "Agora, ele
precisa ficar em repouso em casa, evitar atividades que exijam muito
esforço, como jogar capoeira, que ele disse que gosta, e ter uma
alimentaçao saudável. Também vai precisar de um acompanhamento com um
neuropediatra nesses próximos dias. Deve descansar agora porque sofreu
ação de uma substância neurotóxica e as células ainda estão sob esse
efeito. Foi um trauma e é preciso repouso, mas daqui a um mês já vai
estar totalmente normal", disse o médico.
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