A consulta pública sobre o polêmico projeto de lei
que institui o programa Escola sem Partido entre as diretrizes e bases
da educação completou um mês nessa quinta-feira (18). Até a manhã de
hoje (19), a votação já tinha ultrapassado 373 mil participações, sendo
192.256 votos contrários e 180.943 a favor. Em apenas quatro dias de
debate, a consulta sobre a proposta-- que defende a "neutralidade do
ensino" por meio da proibição de suposta "doutrinação ideológica" nas
escolas-- já havia batido o recorde de participações, se tornando a
maior da história portal do Senado Federal. No início, os votos
contrários chegaram a tomar a liderança. A segunda proposta com mais
participação no site, com 191.532 manifestações, é a do projeto que
propõe a reformulação da lei do Ato Médico. A inspiração para o projeto
de lei sobre o Escola sem Partido no Senado – a qual embasa outros
quatro projetos do tipo, na Câmara dos Deputados, e além de sete
Assembleias Legislativas e 12 Câmaras municipais – é a proposta
idealizada em 2004 pelo advogado Miguel Nagib, procurador paulista. No
Senado, o autor da matéria é o senador Magno Malta (PR-ES), que
justifica ser "fato notório que professores e autores de materiais
didáticos vêm se utilizando de suas aulas e de suas obras para tentar
obter a adesão dos estudantes à determinadas correntes políticas e
ideológicas para fazer com que eles adotem padrões de julgamento e de
conduta moral – especialmente moral sexual – incompatíveis com os que
lhes são ensinados por seus pais ou responsáveis." Além de opinar sobre o
projeto, os participantes da consulta também podem enviar comentários e
sugestões de mudança de cada item previsto no texto, além de acompanhar
a tramitação dele na Casa. O relator é o senador Cristovam Buarque
(PPS-DF). No último dia 22, a Procuradoria Federal dos Direitos do
Cidadão, do MPF (Ministério Público Federal), encaminhou ao Congresso
Nacional uma nota técnica em que aponta a inconstitucionalidade do
projeto de lei 867/2015, que inclui o programa Escola sem Partido entre
as diretrizes e bases da educação nacional. O projeto de lei tramita na
Câmara, com autoria do deputado Izalci Lucas (PSDB-DF), mas, segundo o
MPF, a nota valerá também "para todas as proposições legislativas
correlatas". Na nota técnica, a procuradora federal dos Direitos do
Cidadão, Deborah Duprat, afirma que o projeto "nasce marcado pela
inconstitucionalidade". A justificativa é que o artigo 205 da
Constituição Federal traz como objetivo primeiro da educação o pleno
desenvolvimento das pessoas e a sua capacitação para o exercício da
cidadania. "Essa ordem de ideias não é fortuita. Ela se insere na virada
paradigmática produzida pela Constituição de 1988, de que a atuação do
Estado pauta-se por uma concepção plural da sociedade nacional. Apenas
uma relação de igualdade permite a autonomia individual, e esta só é
possível se se assegura a cada qual sustentar as suas muitas e
diferentes concepções do sentido e da finalidade da vida", escreveu a
procuradora.
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