Apesar de muitas dificuldades estruturais, Genilson afirma que o sorriso das crianças é sua grande motivação
Vinícius Nunes
Sob supervisão de Henrique Brinco
Sob supervisão de Henrique Brinco
Em uma sociedade cada vez mais dinâmica,
onde poucos encontram tempo para fazer outras coisas além do trabalho,
algumas pessoas colocam em prática a vontade de ajudar o outro. Esta é a
realidade do baiano Genilson Alves, nascido e residente de São Felipe,
conhecido popularmente como “Boca”. Com 25 anos, ele é dono da academia,
sediada em São Felipe, intitulada “Futuro Campeão“.
Criado há cinco anos, com os recursos do próprio professor de boxe, o
projeto atende a crianças com dificuldades financeiras. As aulas são
para crianças entre 8 e 17 anos.
O projeto que foi iniciado em agosto 2011, teve muitos percalços no seu início e ainda os tem no presente. Genilson contou ao Varela Notícias
que as primeiras aulas aconteceram na garagem da casa dele. Após esta
fase inicial, o professor de boxe disse que conseguiu dar aulas, três
vezes por semana, em uma sala de uma escola, durante à noite. Porém,
isto não durou muito tempo porque eles foram expulsos depois que a
escola decidiu entrar em reforma. Após perambular em alguns outros
espaços, a academia “Futuro Campeão” conseguiu se estabelecer em
setembro de 2013, em um espaço que antes era uma Associação com
Atividades de Balé e Costuras.
Apesar de se dizer feliz e realizado por
realizar este trabalho, o professor de boxe conta que existem muitas
dificuldades para tocar o projeto, mesmo ele tendo resultados
importantes como vários títulos intermunicipais, baianos e até um
campeonato brasileiro. A falta de patrocínio e investimento é o
principal obstáculo para o funcionamento da academia “Futuro Campeão”. O
VN realizou uma entrevista com Genilson Alves onde ele
fala sobre o início da academia e como ela é mantida e que tipo de
ajuda ela recebe.
VN: O que te motivou a criar este projeto?
Genilson Alves: Situação
de jovens da minha comunidade. Problemas como tráfico, violência, mal
comportamento na escola. Eu tive uma boa criação e de um jovem para
outro jovem faz a diferença na cidade. Eu pensei por que não começar uma
escola de boxe com estes garotos? Eu toquei este projeto e veio muito
jovens de toda parte da cidade e vários começaram a se destacar no
esporte. No decorrer deste tempo, muitos foram resgatados das drogas.
Infelizmente, também perdi 3 para o tráfico. É uma batalha diária, mas
graças a meu Deus, também consegui revelar estes talentos.
VN: Quantas crianças treinam na academia? Quantos campeões você conseguiu fazer?
Genilson Alves: Cerca
de 170 crianças e adolescentes passaram pelo projeto. Porém, no decorrer
deste período, muitos desistiram e atualmente temos 40 alunos, entre 8 e
17 anos. Em relação aos campeões, temos na vida e no esporte. Temos 10
campeões Baianos de boxe, vários vice-campeões baianos, um campeão
Paulista Infantil, temos campeões Brasileiros, um bicampeão Brasileiro,
um medalhista de Bronze nos campeonatos brasileiros de 2014,2015 e 2016,
além de vários campeões Intermunicipais de boxe.
VN: Qual o suporte que você recebe para manter esse projeto? Quem te ajuda com a academia?
Genilson Alves:
Não recebemos ajuda de nenhuma entidade. Fazemos rifas, algumas vezes
com a ajuda do comércio local, que nos ajuda com muita dificuldade.
VN: Qual a sua principal motivação para seguir este projeto mesmo com as dificuldades?
Genilson Alves: Hoje
vivenciamos o problema do tráfico. Crianças e jovens se perdendo mais e
mais na vida da criminalidade, em todo mundo, e o projeto luta pela
esperança. A Equipe Futuro Campeão foi criada para resgatar e para
trazer os jovens para o esporte e, hoje, alguns deles têm até como
profissão. Umas das minha motivações, são as crianças que sonham e
batalham para isso com muitas dificuldades financeiras, materiais, além
de espaço e fardamentos. Porém eles superam tudo isso para alcançar o
sucesso desejado.
VN: Qual suporte a prefeitura de São Felipe dá para o seu projeto?
Genilson Alves: Viagem,
somente viagem para campeonatos. Às vezes com uma certa dificuldade.
Eles também ajudaram em boa parte do campeonato que fizemos aqui em São
Felipe, mas foi preciso que houvesse muitas manifestações para que isso
acontecesse.
VN: Quais são as condições da academia?
Genilson Alves:
Agradeço a Deus pelo espaço, pois antes era na rua… Hoje, mal ou bem,
temos este espaço que conseguimos através de um ex diretor de Esporte,
que não é bem nosso, pois outros pagam o aluguel. A academia precisa de
reforma, principalmente no telhado e no banheiro.
VN: Você também cobra aulas particulares?
Genilson Alves: Para os
meninos não. Eu fui obrigado a fazer uma turma de mulheres que estavam
acima do peso e elas pagam mensalidade, porém todo o dinheiro vai para
despesas do projeto como água, luz, xerox, pagamento de almoços,
materiais, etc.
VN: Quais foram as maiores dificuldades e quais são os maiores problemas que você passou pra tocar o projeto?
Genilson Alves:
Primeiro porque tivemos que começar praticamente na rua. Porém o grande
problema foi a falta de fé das pessoas, pois muitos não acreditavam nos
garotos e em mim, principalmente em mim.
VN: O que representa o boxe na sua vida?
Genilson Alves: Tudo!
Não fui grande lutador, mas sou revelador de talentos. Eu me dedico a
cada dia ao boxe, é a minha segunda casa. Confesso que, por vezes, eu
tiro do meu próprio bolso para manter este projeto para que eu possa ver
estes garotos sorrindo. Hoje sou conhecido em vários lugares do Brasil
através do boxe e tive a oportunidade de participar de 3 campeonatos
nacionais, onde fiz muitas amizades e tive grande aprendizado.
Atualmente eu não vivo do boxe, mas vivo para o boxe. É uma batalha
diária, pois sempre temos que correr atrás de alguém paranos ajudar, não
só em campeonatos, mas também na realização do projeto. Não existe nem
um Projeto de Lei que dê recursos para se fazer mais, não só no boxe
como em outros esportes. Eu faço tudo isso por amor divino, eu tenho
família, esposa, dois filhos, aluguel, etc. É difícil, mas eu consigo
dar um jeitinho e fazer tudo no improviso. E hoje, na Bahia, o
presidente da Federação Baiana me chama de melhor técnico e coloca a
academia como uma potência do interior.
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