Por 14 votos a 5, a Comissão do Especial do
Impeachment do Senado aprovou o relatório do senador Antonio Anastasia
(PSDB-MG), favorável ao prosseguimento do processo e ao julgamento da
presidenta afastada Dilma Rousseff por crime de responsabilidade. Com
isso, a comissão encerra os trabalhos. Como já havia antecipado que
faria desde que assumiu o colegiado, o senador Raimundo Lira (PMDB-PB)
foi único que não votou.
Na próxima
terça-feira (9), o mesmo relatório será votado pelos 81 senadores no
plenário da Casa. A sessão será presidida pelo presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. Para o relatório ser
aprovado em plenário, são necessários votos da maioria simples dos
parlamentares, ou seja, metade mais um dos presentes à sessão.
Caso os senadores decidam pela continuidade do processo, Dilma será julgada no fim do mês, em data ainda a ser definida. No
julgamento final, os senadores terão de decidir se Dilma será afastada
definitivamente do cargo e ficará inelegível por oito anos. Para
aprovação, são necessários, no mínimo, 54 votos, em votação no plenário
do Senado.
Pró-impeachment
Antes
da votação do relatório, os senadores titulares e líderes de partidos
tiveram cinco minutos para defender suas posições e a maioria aproveitou
para justificar e antecipar o voto. O primeiro inscrito foi o senador
Ricardo Ferraço (PSDB-ES). Segundo ele, o relatório de Anastasia “grita,
berra e materializa todos os fatos relacionados com os crimes cometidos
pela presidente afastada”. Para Ferraço, a política fiscal de Dilma fez
o país mergulhar em sua mais complexa crise econômica.
Também
favorável ao relatório do tucano, o ex-ministro da Integração Nacional
de Dilma, Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), disse que seu voto "sim" é
um "voto de esperança na reconstrução do Brasil". O senador pernambucano
acrescentou que a Lei de Responsabilidade Fiscal foi "claramente
ferida" pelo governo Dilma para obter a reeleição.
O
líder tucano, Cássio Cunha Lima (PB), foi na mesma linha. Ele afirmou
que “os crimes do governo Dilma” foram cometidos com propósito político.
Ao defender que o processo contra a petista seja concluído ainda este
mês, Cunha Lima destacou que "a agonia do país não pode durar mais".
Sobre as declarações dos defensores do mandato da presidenta afastada, o
senador encerrou a fala com a seguinte frase: "Não vai ter golpe, vai
ter impeachment".
Contrários
Em
defesa do mandato de Dilma Rousseff, o senador Humberto Costa (PT-PE)
comparou o momento atual do Brasil a uma "repetição farsesca" do golpe
de Estado de 1964, que segundo ele, se justifica "pelo combate à
corrupção reclamado pelos corruptos". Costa disse ainda que a presidenta
afastada não cometeu crime e que os decretos de créditos suplementares,
alvo do processo, "jamais justificariam" a retirada de um presidente.
Na
contramão dos próprios colegas de partido, bastante exaltada, a
ex-ministra da Agricultura de Dilma, Kátia Abreu (PMDB-TO), afirmou que o
processo de impeachment é fruto de "uma chantagem de Eduardo Cunha",
que queria se ver livre das acusações que pesavam contra ele. A
senadora criticou ainda a política fiscal do governo interino de Michel
Temer. E acrescentou que "o mensalão e o petrolão não são de um partido
só" e que "muitos estão atolados".
Ao
declarar voto contrário ao relatório de Antonio Anastasia, a senadora
Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou que, apesar de um resultado desfavorável
para Dilma, os aliados da presidenta afastada cumpriram seu papel. A
petista criticou a comissão por ter dado mais importância ao rito que ao
conteúdo e avaliou que há um golpe em curso, “não contra Dilma, Lula ou
o PT, mas contra os 54 milhões de eleitores”.
Tensão
Um
dos momentos mais tensos da comissão ocorreu quando a senadora Fátima
Bezerra (PT-AM) se referiu ao relatório de Anastasia como “fraudulento”.
O presidente Raimundo Lira pediu que a expressão fosse retirada da
transcrição da íntegra da sessão, que é feita pela taquigrafia do
Senado, e causou revolta entre os petistas.
O
senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que o centro de sua fala seria na
mesma linha e acusou Lira de censura. “Isso não é censura, é
equilíbrio", rebateu Lira, que manteve a decisão. Raimundo Lira lembrou que em outros dias, quando petistas utilizaram a mesma expressão, tomou a mesma atitude.
Ele
disse que em uma das reuniões da comissão também pediu que retirassem a
palavra “criminosa”, usada por parlamentares em referência a Dilma
Rousseff. O senador justificou a decisão com base no Artigo 19 do
regimento interno da Casa, que proíbe a utilização de expressões
descorteses. Outro
artigo citado foi o de número 48 que prevê que ao presidente compete
promover a publicação de todos os debates e atos de Senado impedindo
expressões vedadas pelo regimento do Senado.
Presidente da Comissão
Logo
no início da sessão, Raimundo Lira agradeceu servidores do Senado e fez
um balanço do trabalho de 100 dias à frente da comissão. “O momento que
hoje vivemos é um episódio decisivo na história de nossa democracia, e
creio que a forma como trabalhamos nesta comissão será vista, no futuro,
como um exemplo de reverência aos princípios democráticos, nesta
situação crítica em que nos encontramos. No mesmo sentido, nos pautamos
sempre, na condução dos trabalhos, pela posição suprapartidária, pelo
respeito às posições minoritárias, pelas regras do bom convívio que
mantêm abertas as vias do debate e do contraditório”, destacou.
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