Um tradicional casamento indígena foi realizado na
aldeia Pataxó Reserva da Jaqueira, em Porto Seguro, sul da Bahia. O
casal já morava junto, mas decidiu oficializar a união em uma cerimônia
que seguiu todos os rituais indígenas. O casamento fez parte das
atividades comemorativas do Aragwaksã, como é chamado o aniversário da
aldeia, que completou na segunda-feira (1°), 18 anos.
Para
purificar as almas, espantar os maus espíritos e fortalecer a união
entre os casais, o pajé benzeu todo o Quijeme, oca onde é realizada a
cerimônia, com bastante incenso de ervas. Os convidados e parentes dos
noivos se enfeitaram antes da cerimônia, mas no lugar da maquiagem, eles
fizeram pinturas no rosto e por todo o corpo, utilizando urucum, barro e
argila.
Para a a líder indígena Natinawã
Pataxó, a cerimônia fortalece a identidade da tribo. "Reúne parentes de
outras aldeias, amigos, parceiros, para que a gente possa fortalecer a
cultura Pataxó e preservar também 827 hectares de Mata Altlântica que
nós temos aqui", disse.
A cerimônia, realizada
na última segunda, começou com a chegada do cortejo das "Jokanas", como
são chamadas as noivas. Durante a entrada, no lugar da marcha nupcial,
os presentes entoaram cânticos e músicas típicas. Em
seguida, chegaram os "Kakiçús", que são os noivos. Os homens se casam
com traje típico e chegam carregando uma tora de madeira com peso
equivalente ao da futura esposa.
O
cacique Siratã Pataxó explica qual o papel do novo casal da aldeia. "Os
guerreiros produzem muito artesanato, e a base dos artesanatos é colar
de sementes, e as sementes são encontradas na floresta. Então esses
casais vão catalogar as sementes", disse.
A
maior parte da cerimônia é celebrada em patxôrã, língua típica do povo
Pataxó. O cacique pede aos ancestrais proteção e benção para os lares.
Até o sim dos noivos é dito em patxôrã. Bocandwê Pataxó, o noivo, disse estar muito feliz com a realização do casamento.
"É uma alegria imensa casar aqui na reserva da Jaqueira, que é um lugar que acolhe índios de todos os lugares", disse. Na
hora de trocar as alianças, os índios trocam os cocás e compartilham o
cauí, uma bebida feita com mandioca fermentada. "Para nós é uma
felicidade a união no casamento Pataxó", disse a noiva.
Todo
ritual foi acompanhado por índios de outras aldeias e turistas.
"Presenciar esse momento, esse casamento tradicional, fortalece também a
nossa identidade como baiano, brasileiro, e para mim foi importante
estar aqui fazendo esse intercâmbio cultural", disse o estudante Ramon
Rafaello.
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