Minha família entende muito a respeito de tentativas
de suicídio e nós não somos os únicos. Duas situações que servem de
exemplo: Um sobrinho de 20 anos, depois de receber uma carta muito
carinhosa de sua cunhada explicando porque ela não poderia ser sua
amante, foi até o quarto e se matou com um tiro na cabeça. Um tio
querido pela família, e que havia resistido a anos de depressão profunda
alternada com casos leves de mania, foi atendido em uma sexta-feira na
clínica psiquiátrica de um importante hospital, onde foi orientado a
retornar na segunda-feira. Em vez disso, ele tomou todos os comprimidos
que encontrou pela casa e se deitou em quebra-mar de pedra, onde esperou
pela morte. Por sorte, foi encontrado com vida pela polícia e depois de
ser hospitalizado, foi corretamente diagnosticado com transtorno
bipolar, tratado de acordo e viveu até os 80 e poucos anos de idade.
Mais pessoas morrem em decorrência de suicídios do que de homicídios nos
Estados Unidos. A cada 13 minutos, alguém tira a própria vida, tornando
o suicídio a décima principal causa de morte no país (42.773 mortes em
2015) e a segunda principal causa de morte entre pessoas de 15 a 34
anos. Entre crianças de dez a 14 anos, os índices de suicídio já
equivalem ao de mortes no trânsito. Um número muito superior –mais de um
milhão de adultos e 8% de todos os estudantes secundaristas– tenta se
matar todos os anos, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de
Doenças. Entretanto, apenas uma minoria alarmante recebe o tipo de
tratamento e atenção necessários para impedir que voltem a tentar o
suicídio. Uma crença comum é a de que pessoas que sobrevivem a
tentativas de suicídio não tentam novamente, mas isso não é verdade. Na
realidade, o que ocorre é justamente o contrário. De três meses a um ano
depois de uma tentativa de suicídio é que se concentra a maior chance
de uma segunda tentativa –e dessa vez, o pior pode acontecer. Uma
análise recente de estudos que examinam a morte por suicídio de pessoas
que já haviam tentado se matar anteriormente revelou que uma a cada 25
pessoas conseguiu se matar até cinco anos depois da primeira tentativa.
Agora, um novo estudo revela o quanto as tentativas de suicídio são
letais, como fator de risco entre pessoas que de fato acabam por se
matar. O estudo, liderado por J. Michael Bostwick, psiquiatra da clínica
Mayo, acompanhou todos os casos de primeira tentativa de suicídio em um
condado de Minnesota, ocorridos entre janeiro de 1986 e dezembro de
2007, registrando todas as mortes por suicídio até 25 anos após a
primeira tentativa. Das 1.490 pessoas que haviam tentado se matar, 81 ou
5,4%, morreram por suicídio, 48% das quais na primeira tentativa. A
descoberta foi publicada na revista científica "American Journal of
Psychiatry". Depois da contagem de todas as pessoas que haviam cometido
suicídio, incluindo as que haviam morrido na primeira tentativa, a taxa
de fatalidade entre pessoas que tentam suicídio mostrou ser quase 59%
mais altas do que os dados anteriores. "Ninguém havia incluído as
pessoas que haviam de fato morrido na primeira tentativa de suicídio. É
por isso que esse dado não constava na literatura médica", afirmou
Bostwick em uma entrevista. "O fato de que quase dois terços dessas
pessoas morrem na primeira tentativa é assolador. Precisamos repensar a
maneira como observamos os dados e o fenômeno do suicídio. Precisamos
saber mais e fazer mais pelas pessoas que vão tentar se matar antes
mesmo de pedir qualquer tipo de ajuda." O estudo também demonstrou que
quando a tentativa envolve o uso de armas de fogo, as chances de morte
aumentam 140 vezes. Bostwick afirmou que a maioria das tentativas de
suicídio "são ações impulsivas, e é fundamental evitar o acesso a
ferramentas que tornem essas tentativas tão mortais". "As pessoas que
tentam suicídio muitas vezes se questionam, mas quando há métodos
eficientes como armas de fogo à disposição, não há oportunidade de
repensar", afirmou. No editorial "You seldom get a second chance with a
gunshot" ("Você raramente tem uma segunda chance com armas de fogo", em
tradução literal), a especialista em saúde mental Merete Nordentoft, de
Copenhague, na Dinamarca, afirmou que "um ato suicida é resultado de um
estado de espírito temporário". Em vista da "alta mortalidade ligada às
armas de fogo", a cientista e sua equipe afirmam que a disponibilidade
de armas de fogo deveria ser limitadas por restrições legais à compra,
períodos e espera, armazenamento seguro, análise de antecedentes e
outras diretrizes de registro". Essas medidas estão ligadas a uma queda
no número de suicídios por arma de fogo. "A maioria das pessoas que
tenta suicídio depois muda de ideia", afirmaram os pesquisadores,
acrescentando que "com frequência, as armas de fogo não permitem uma
mudança de ideia, nem que a ajuda médica chegue a tempo. Portanto, é
alarmante que 21.175 pessoas que cometeram suicídio nos EUA, em 2013
(51% do total), tenham utilizado armas de fogo". No estudo realizado em
Minnesota revelou-se que os homens têm cinco vezes mais chances de
morrer por suicídio do que as mulheres; eles também têm mais chances de
utilizar armas de fogo na tentativa. Entretanto, mulheres que utilizam
armas de fogo em tentativas de suicídio têm mais chances de morrer do
que homem. Outro ponto que talvez seja ainda mais importante para a
prevenção do suicídio é a atenção aos sinais de comportamento suicida,
acompanhada de ações para impedir que isso ocorra. Pessoas em depressão,
viciadas em álcool ou drogas ilegais ou que estejam passando por graves
dificuldades de relacionamento são consideradas de grande risco,
afirmou Bostwick. Ao chamar a atenção dos médicos para os sinais dados
pelos suicidas, Catherine Goertemiller Carrigan e Denis J. Lynch
escreveram na revista científica "Primary Care Companion Journal of
Clinical Psychiatry" que "mais de 90% das pessoas que cometem suicídio
têm doenças psiquiátricas diagnosticáveis no momento de suas mortes". Os
psiquiatras também devem prestar mais atenção a pessoas que enfrentam
outros tipos de doença. "Até 50% dos pacientes com problemas
psiquiátricos também têm algum tipo de condição médica não reconhecida,
que contribui para a deterioração mental", ainda assim, menos de 20% dos
psiquiatras realizam exames de rotina em seus pacientes. Entretanto,
com frequência, parentes e amigos são as pessoas em melhor posição para
perceber tendências suicidas e agir para impedir que isso ocorra. Além
de depressão e uso de drogas, os sinais incluem afirmações (verbais ou
escritas) de que seria melhor estar morto; afastamento de família e
amigos; sensação de desespero, raiva, inação, culpa excessiva e
vergonha; perda de interesse na maioria das atividades; ações impulsivas
ou irresponsáveis; notar que a pessoa está se desfazendo de bens
importantes. O principal é levar a pessoa e essa desconfiança a sério e
buscar ajuda médica imediata, mesmo que a pessoa resista. A menos que
você seja um profissional de saúde mental, não ache que uma simples
conversa pode dissuadir alguém de se matar. Para quem já tentou
suicídio, as chances de uma segunda tentativa diminuem consideravelmente
com uma ou mais visitas ao psiquiatra, afirmou Bostwick.
0 Comentários