As aulas em algumas escolas municipais de cidades da Bahia ainda não começaram por conta de problemas de infraestrutura. O calendário escolar, na maior parte do estado, foi iniciado no dia 6 de fevereiro. Falta de materiais, de transporte, além de mesas e carteiras quebradas são os principais problemas enfrentados pelos alunos. A situação foi registrada em escolas no norte, sul e sudoeste da Bahia.
Em Juazeiro, no norte do estado, famílias até dormiram na fila para conseguir vagas para os filhos em uma creche. A unidade é nova, mas a obra não foi concluída. A Secretaria de Educação do município disse que as aulas devem começar dia 13 de março, e que os professores vão repor as aulas atrasadas. A superintendente de gestão de Juazeiro explicou o motivo do atraso no ano letivo nas unidades.
"A escola foi construída, ela já está pronta, mas nós não temos, no depósito, o mobiliário. A Secretaria de Educação fez essa compra logo no início de janeiro e nós ficamos aguardando a empresa mandar o mobiliário", disse. A filha da dona de casa, Janaína da Silva, tem 4 anos e já deveria estar estudando, mas a creche onde ela foi matriculada, no Residencial Juazeiro I, no bairro Itaberaba, ainda não começou a funcionar.
A mãe da menina está preocupada com o atraso no ano letivo e porque não tem onde deixar a filha. "Quero começar a trabalhar. Eu achava melhor, para começar, deixar ela na creche", disse. Situação semelhante ocorre com Joana Darc da Silva. Ela já fazia planos para trabalhar, porque com a creche no Residencial, teria onde deixar a filha de dois anos.
Contudo, a expectativa virou frustração, porque ela não conseguiu vaga. "Fica difícil porque a gente não pode trabalhar. A ajuda que a gente recebe do governo pode ser cortada devido a essa falta de estudo dos nossos filhos", falou. Uma creche e uma escola de ensino fundamental foram construídas no Residencial no ano passado.
A obra já terminou, mas as aulas não começaram. Nos dois locais vão estudar 290 crianças e adolescentes. Keliane Santos conta que chegou até a dormir na fila para tentar vaga paras as filhas e para uma sobrinha na escola, e na creche do Residencial. Contudo, só conseguiu para a filha mais velha. "Perdemos vagas nas outras escolas esperando essa daqui. A gente está muito triste com essa situação", contou.
Vitória da Conquista
Crianças também estão sem aulas no povoado de Olhos D’água, a 42 quilômetros de Vitória da Conquista, na região sudoeste. As aulas já deveriam ter começado, mas não tem professor. O secretário municipal de Educação confirmou a situação e afirmou que os estudantes devem voltar às salas de aula ainda este mês. Os alunos estão tristes porque querem estudar. Os pais tentam ensinar em casa, mesmo não tendo muita instrução.
É o caso de Gilvaneide do Santos Silva, que ensina o filho, Breno, de 9 anos. "O que eu posso fazer é ensinar ele. Aqui eu ensino, porque era para as aulas terem começado e até agora não começaram", revelou. A dona de casa estudou até a 4ª série porque não teve como sair da roça para avançar nos estudos, e ela não quer que a história se repita com o filho.
A família dos alunos do povoado alegam que no dia 6 de fevereiro, quando as aulas começariam, as crianças foram para a escola Municipal Joaquim Fróes e, quando chegaram, não tinha professores. Conforme os estudantes, ninguém foi avisado que não teria aula.
"Foi triste, porque ele esperou o ano todo e a gente empolgando ele, explicando coisas em casa, ajudamos ele a escrever o próprio nome, para quando ele chegasse aqui não tivesse muita dificuldade. Mas quando ele chegou aqui, não tinha professor", disse a agricultora Suze Moura.
Prado
Em Prado, no extremo sul do estado, a situação das escolas também é complicada. Paredes rachadas, telhas quebradas, fios expostos, carteiras quebradas e falta de transporte para os alunos são alguns dos problemas. Na cidade, as aulas também estavam previstas para começar no dia 6 de fevereiro, mas ainda não tem data pra iniciar.
Mesmo com a situação, a prefeita de Prado disse que as aulas poderiam ter começado no dia 6, porque os reparos podem ser feitos com os alunos na escola. Com relação às carteiras insuficientes para algumas turmas, ela explicou que o número de alunos das turmas muda de um ano para o outro, e que esse tipo de material vai sendo reposto gradativamente.
Sobre o transporte escolar, a prefeita disse que alguns assentamentos foram regularizados recentemente, mas que a prefeitura já está abrindo os acessos a essas comunidades com máquinas. "O município não tem orçamento para construção de novas escolas, mas a questão dos reparos e das melhorias isso a gente já vem fazendo ao longo dos quatro anos e vamos manter no início dessa gestão", explicou a prefeita.
A escola Municipal José Marti atende cerca de 80 estudantes da educação infantil ao 5º ano do ensino fundamental. Na sala da educação infantil, 22 crianças deveriam estar estudando. As mesas e cadeiras, além de estarem danificadas, não são suficientes para a quantidade de alunos.
Tem criança que se queixa da água que sai de uma represa direto para o reservatório da escola, sem tratamento. Segundo moradores, a água da represa é suja. "A educação pública deveria ser de qualidade. A gente sabe que está muito longe disso, mas a situação que a gente vive, quem mora na zona rural, quem mora em áreas de assentamento, é muito mais difícil, muito mais complicado", disse a dona de casa, Alessandra Ferreira.
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