O ácido fólico – forma sintética do folato, um tipo
de vitamina B – é essencial durante a gestação. Ajuda no desenvolvimento
neurológico do feto durante o fechamento do tubo neural, que, quando
prejudicado, apresenta problemas morfológicos, como anencefalia, fenda
palatina e o lábio leporino. No entanto, seu consumo em excesso pode
aumentar em duas vezes o risco de autismo nos bebês, segundo novo estudo
da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.
A pesquisa: Pesquisadores
da Escola de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins analisaram
o nível de ácido fólico no sangue de 1.391 mães, logo depois do parto, e
de seus filhos durante o período de 1998 a 2013. Os resultados,
relevados em 2016, mostraram que as mães de crianças autistas tinham
níveis quatro vezes maiores de folato do que o recomendado – uma a cada
dez voluntárias tinham o excesso da substância no sangue.
Excesso é prejudicial: “O excesso
de ácido fólico pode prejudicar os genes que fazem a maturação do
encéfalo e causar alguma má formação, podendo desenvolver autismo ou
autismo parcial”, explicou Antonio Cabral, doutor em obstetrícia pela
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e professor da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O autismo é um
transtorno do neurodesenvolvimento, mas tem como causa outros fatores
mais amplos. A quantidade excessiva atua em um quadro muito específico
do DNA do feto, um fator isolado. “Tem de ter predisposição genética e
outros fatores. O excesso de folato pode ter uma consequência diferente
em outra pessoa”, disse o médico.
Na quantidade correta, há benefícios: Na
época, alguns médicos rebateram os resultados do estudo. Afinal,
a vitaminaainda é essencial na proteção dos riscos de mal formação do
feto. Na verdade, de acordo com um estudo anterior, publicado no Journal
of the American Medical Association (JAMA), a ingestão de ácido fólico,
que pode ser encontrado naturalmente em frutas e vegetais ou farinhas
enriquecidas, poderia até reduzir o risco de autismo. “O que não deve
haver é uso em altas doses”, explicou Cabral.
Segundo o médico, o
ideal é ingerir de 0,4 a 0,8 miligramas por dia antes de engravidar e
nos três primeiros meses da gestação, conforme recomendações da
Organização Mundial da Saúde (OMS), do Conselho Federal de Medicina
(CFM) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia (Febrasgo). Além disso, se tomada em doses reduzidas durante
o resto da gestação, a vitamina auxilia na formação do coração e evita o
parto prematuro. “A suplementação adequada é protetiva, continua sendo o
caso do ácido fólico”, disse Daniele Fallin, uma dos autores do estudo
principal. No entanto, mais estudos são necessários para determinar a
quantidade ideal da vitamina para cada gestação. O alerta é para que
médicos e as mulheres grávidas se atentem à dosagem adequada. “Se a
mulher tem alguma atividade ou hábito que possa reduzir o ácido
fólico [no organismo], como fumar ou atividade física intensa, pode usar
dentro dessa dosagem ou um pouco mais. Tem de conversar com o médico
para ver se é excessiva”, concluiu Cabral.
Autismo: De
acordo com Andreas Stravogiannis, diretor técnico da Associação de
Amigos do Autista (AMA), entre as possíveis causas ambientais do
autismo podem estar as infecções neonatais, problemas durante o trabalho
de parto, exposição a substâncias químicas ou tóxicas durante a
gravidez ou os primeiros anos do bebê, parto prematuro e
a desnutrição da mãe. “Quando se chega ao diagnóstico de autismo, cabe
investigar as possíveis causas, mas, na maioria das vezes, as pacientes
não têm evidências suficientes que justifiquem o autismo”, explicou,
entretanto.
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